Incomoda-me não ter carteira de
motorista e por isso ter que depender da boa vontade do meu pai pra me levar
nos lugares. Incomoda-me ficar combinando horário com ele e quando a hora se
aproxima, ele vem jogar na minha cara que não vai me levar ou que não pode nem
dormir até mais tarde ou assistir futebol. Incomoda-me quando ele tem
necessidade de me ver “beijando seus pés” ou que eu implore meia hora pra vê-lo
calçado com tênis e balançando a chave do carro pra me levar onde tenho que ir.
Incomoda-me ser tão boazinha, fazer tudo que meu pai quer, mesmo achando ruim, e
quando preciso dele, mesmo que ele vá me atender, primeiro, tem que fazer “doce”
com minha cara. Incomoda-me ter que depender dele nesse sentido, depender do dinheiro
dele e da paciência dele. Incomoda-me, não concordar com isso tudo, surtar de
vez enquanto, ficar brava, chateada e ainda ter que escutar que sou louca, ruim,
pecadora e não sei mais o quê. Quando eu peço pra ele algo, peço apenas uma
vez. Se ele quiser me atender, fico aguardando, mas caso contrário, isso é a
gota d’água. Não me venha dizer que está me esperando ficar pronta e chamar de
novo. Não venha bancar de bonzinho e dizer que não me negou nada. Eu falo só
uma vez e quando não tenho outra saída, tipo dinheiro pra pegar um ônibus ou ônibus disponível pra que eu possa ir onde PRECISO IR, me resta mesmo chorar e mostrar
o quanto sou amada, por gente que não me atende e depois vem falar que sou
fresca e que tenho que trabalhar na "Globo". Não que eu seja dona da verdade,
linda e maravilhosa que "falou e a água parou". Mas sim, que não pedi pra vir ao
mundo (parece frase de gente rebelde, revoltada, mas nem sou. É um clichê, que nem sei como, me alivia um pouco) e mesmo tendo um pai tão bonzinho, as vezes, ele me faz sofrer com coisas tão
idiotas como essas.